Páginas

domingo, setembro 18, 2011

Suzuki GSX1250FA



Nos dias de hoje, ainda há motos que, apesar de não serem estrelas de ficha técnica, beneficiárias de estatutos elevados, recordistas de vendas, pertencerem a marcas da moda ou recorrerem a arsenais electrónicos, nos reservam grandes surpresas quando nos sentamos aos seus comandos e vamos dar uma volta nelas.

Esta Suzuki GSX1250FA faz parte desse restrito grupo de motos, que consegue proporcionar um enorme prazer de condução e potenciar as nossas capacidades com uma enorme facilidade de manobra e segurança. Não será por nenhum aspecto em particular, mas sim pelo conjunto de soluções que engloba, que esta moto proporciona um tão grande prazer e facilidade de condução, que me deixou deveras impressionado e me fez recordar (vagamente, claro) os tempos em que fazia rugir o Yoshimura da minha Bandit 400.


Mal nos sentamos aos seus comandos damos conta de que estamos bem sentados, e que temos tudo à mão. A suavidade do motor, mal damos arranque, é uma agradável surpresa, apenas suplantada pela forma fácil como o”quatro cilindros” sobe de rotação. A forma como os gases sopram através da ponteira da Remus com um agradável ronco, não muito alto, mas definitivamente expressivo é outra promessa. A informação do painel de instrumentos é bastante legível e completa, onde nem falta o indicador de mudança engrenada.

Ao arrancar damos conta duma moto com um motor muito alegre e sempre disponível, equipada com bons travões e uma suspensão muito bem regulada para a nossa desgraçada rede viária. A GSX1250FA é espartana, mas tem o indispensável para nos transportar confortável e alegremente até onde a nossa carteira nos permitir. Compará-la é difícil. Sendo muito polivalente e manobrável, é bastante menos elaborada que as grandes turísticas, mas bastante mais consistente que as grandes utilitárias. O seu grande argumento é o preço, e o seu grande atractivo são as prestações do tetraciclíndrico.


Em viagem, seja por auto-estrada seja por estradas florestais, a protecção aerodinâmica oferecida é razoável, apenas penalizada em alta velocidade pela pouca altura do ecrã. O apêndice aerodinâmico que este apresenta é suficiente para nos manter mais ou menos isentos de mosquitos na viseira, mas os grandes insectos conseguem frequentemente passar a cortina de vento que este origina e esborracharem-se estrondosa e artisticamente na viseira do capacete e nos ombros, isto se circularmos em posição mais elevada. Em contrapartida, as sacudidelas do capacete a alta velocidade são praticamente inexistentes, mesmo quando levamos pendura.

Ainda por falar na aerodinâmica, o comportamento com o conjunto de malas instalado (opcional) é muito bom, sendo que, na ausência de ventos laterais, se pode esgotar o motor sem que se notem reacções estranhas na direcção. Mesmo com vento, é possível circular bem rápido, apenas se sentindo um ligeiro abanar da roda da frente, que nunca compromete a segurança, e que desaparece mal se desacelera ou se faz actuar o travão.

Em cidade, no meio das filas de “zombies”, a GSF1250FA mexe-se como se tratasse de uma “600”. O motor é uma delícia. Desenvolve desde baixa rotação, magistralmente e sem falhas nem hesitações, apoiado por uma caixa de velocidades precisa, macia e bem escalonada. A embraiagem, apesar de ser accionada por cabo é bastante leve. A direcção, com um grande ângulo de viragem, facilita o desenvolvimento no trânsito. O guiador largo proporciona uma grande facilidade de manobra. A pouca altura do banco (que ainda pode ser regulado para uma posição 2 centímetros mais baixa) garante uma confiança muito grande, ajudada pelo baixo centro de gravidade. Estacionar em qualquer lugar não é problema já que a utilização do descanso central é bastante acessível.

Em estrada, o binário de 11 Kgf/m debitado pelo motor mostra-se sempre disponível e solícito para nos manter correctamente na trajectória pretendida, para efectuar qualquer ultrapassagem ou para nos projectar, sem qualquer medo na fase de enrolar o punho, até à próxima curva. A travagem apresenta-se progressiva, sem grande mordida na fase inicial, mas consistente e incansável mesmo com pendura e em percursos sinuosos, podendo ser usada mesmo até à entrada da curva, já que a suspensão tem um comportamento muito são, sem sacudir nem abanar, mantendo-se estável no momento da inserção em ângulo. Os Bridgestone BT 021 que equipavam o modelo que testámos, mostraram-se bem ao nível de todo o conjunto, proporcionando momentos de grande diversão nos percursos mais sinuosos. O ABS é o único luxo visível do conjunto! Bem ajustado e bem ajudado pela boa aderência dos pneus, raramente se faz sentir, mesmo nos pisos mais polidos.

Mas a GSX1250FA também tem os seus defeitos. Com temperaturas ambientes mais elevadas, o calor emitido pelo tetracilíndrico é bastante incomodativo, sentindo-se sobretudo do lado direito, de onde sopra a ventoinha do radiador e onde se encontra o depósito do óleo. Um porta-luvas era bem-vindo e o acesso à fechadura do banco obriga a remover a mala lateral esquerda. Ainda assim, retirar o banco é uma tarefa complicada já que a “top case”, colocada demasiado à frente, tenta impedir a sua retirada, sendo necessário alguma perícia para cumprir a tarefa. Esta colocação adiantada da “top case” pode trazer benefícios aerodinâmicos mas também limita a mobilidade do passageiro que, se for de compleição física acima da média, se verá “entalado” entre as costas do condutor e a almofada de encosto.

Em auto-estrada a autonomia vê-se drasticamente reduzida, sendo possível “dar cabo” dos 19 litros do depósito em bastante menos de uma hora. Mas em sexta velocidade, pode-se circular a 120 km/h um regime perto das 4.000 rpm, praticamente metade do regime máximo que se consegue “espremer” em terreno plano. E para ser mesmo picuinhas, ainda acho que se as malas laterais e a “top case” tivessem apenas uma chave em vez de duas o preço final não deveria ser muito agravado.




Publicado na edição nº 232 da Revista MOTOCICLISMO

Fotos: João Carlos Oliveira / MOTORPRESS