Oiço o grito rouco da estrada
Tentador em timbre de negro.
Que me chama, puxa e arrasta
como se nada mais tivesse dentro.
Um convite para esventrar planícies,
Cruzar rios, muralhas, pontes, matagais.
Trepar montanhas, roubar paisagens.
Ler marcos, placas e sinais.
Um pôr de sol, uma encosta,
Uma árvore, um cruzamento,
Um sinal, uma curva, uma cegonha
Um rio, uma berma, um jumento.
Deixo para trás a canseira da canícula,
Com o som rouco que me invade.
Combato a noite que me enfeitiça
Com o triste frio da madrugada.
Oiço o grito rouco da estrada
Que me inquieta e rouba o descanso.
Que me chama, tenta, desassossega.
E me relaxa quando por ela avanço.