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domingo, outubro 12, 2008

Suzuki Intruder VZ 1800 R






Esta Suzuki Intruder VZ 1800 R, que na américa é conhecida por M1800R, traz-me sempre gratas recordações. Foi o meu primeiro artigo para a Revista Motociclismo, e foram muitos quilómetros de prazer...


Linda! Horrível! Bonita! Feia! Monstro! Espectáculo! Colossal! Tudo adjectivos empregues por quem viu, mas não andou nesta Suzuki Intruder VZ 1800R!

E por “andar” nesta Intruder, tem que se considerar fazer algumas centenas de quilómetros até que o nosso corpo se liberte dos vícios que criámos a conduzir outras motos, para que então aí se possa desfrutar de tudo aquilo que ela tem para nos dar! E o que é que um motociclo destas dimensões, tem para nos dar?

Ou não tem nada, porque não gostamos do género, ou então tem tudo para que percamos a razão e fiquemos com ela entranhada no pensamento, com vontade de sair da cama às 4 ou 5 da manhã só para ir fazer quilómetros! Para poder sentir aquela força, aquela compostura em estrada ainda que com curvas, ainda que em andamento rápido, ainda que no meio do trânsito, ainda que em auto-estrada, ainda que de noite ou com chuva!

Excepção feita ao mau piso, não há razão para não rodarmos nesta moto!

Com ela sentimo-nos donos da estrada. Qualquer ultrapassagem tem uma dimensão insignificante pois com apenas um ligeiro rodar de punho, podemos facilmente ultrapassar três ou quatro carros num piscar de olhos! E qualquer semáforo tem um gosto a “drag-race” com um bónus especial na admiração dos donos das “R” que só nos apanharam no semáforo seguinte!

Tudo isto sem “espremer o motor” e sempre com uma postura “nobre”.

E se vamos circular em estrada aberta ou auto-estrada, apenas temos que nos preocupar com a autonomia e com o controle da velocidade! Pois até nisso, e ao contrário da concorrência, a protecção aerodinâmica proporcionada por aquele exclusivo farol dianteiro permite-nos rodar confortavelmente a velocidades que fazem as delícias das “brigadas do radar”! Mesmo quem tenha mais de 1,80 metros de altura pode manter a dignidade sem ter que se baixar ou encolher para poder andar um pouco mais rápido!

Mas então não há defeitos? Claro que há! Não há motos perfeitas…

Pode quase dizer-se que esta Intruder não tem suspensão, de tão rija que é! E trezentos e tal quilos de peso, não são fáceis de manobrar para todos os motociclistas! E o consumo algo elevado também pode constituir um defeito para algumas bolsas mais apertadas! E a Iluminação também sofre do efeito "XX", deixando-nos “cegos” a meio das curvas de raio mais apertado!

E o pneu traseiro com aquela largura desmesurada, mas necessária para poder aplicar todo aquele binário no alcatrão, também nos pode pregar partidas! Por isso temos que ter cuidado com as saídas de garagem, as sarjetas, as valetas, os pisos derretidos que formam aqueles montes de alcatrão, pois quando o pneu traseiro os atinge apenas de um dos lados, e isto se circulamos abaixo dos 40 Km/hora, podem provocar um desequilíbrio muito rápido e desagradável que nos pode pôr em dificuldades, sobretudo devido ao peso da Intruder.

Nas curvas de raio reduzido, nomeadamente rotundas ou cruzamentos, quando circulamos em segunda velocidade (a primeira é quase desnecessária), devemos recorrer à embraiagem para podermos manter uma aceleração mais suave, pois o “dois cilindros em V” tem tendência a dar umas engasgadelas abaixo das 1500rpm.




E com a chuva, além de termos que recorrer ainda mais à embraiagem, temos que dosear muito bem o acelerador para evitar a patinagem da roda traseira, pois quando 300 quilos escorregam… E ainda temos que ter cuidado onde pomos os pés, sobretudo a manobrar, pois se algum perde aderência, lá vamos nós…

Em termos de condução, tenho que deixar claro que não estamos aqui a falar nem de uma “trail”, nem de uma “R”. Claro que a Intruder tem limitações! Curvas muito apertadas e encadeadas têm que ser feitas a velocidade relativamente mais baixa do que se fossemos numa outra moto “agarrados” à roda dianteira! Pisos em mau estado podem originar grandes pancadas na coluna ou até, eventualmente, cuspir-nos da moto para fora!

Mas a perfeição da travagem, a limpeza com que o gigante 240 agarra a estrada em aceleração e a suavidade com que o motor pode libertar a potência que desenvolve, são mais do que suficientes para garantirem uma segurança impressionante.

Em curva, a partir dos 40 Km/hora, a Intruder comporta-se de uma maneira tão própria, mantendo um comportamento tão neutro, mesmo até quando começa a raspar com os poisa-pés no chão, que nos deixa confiantes e desejosos por fazer a próxima. Claro que é uma máquina que não “cai” para o centro da curva, há que lá pô-la. Mas no fim de poucos quilómetros já sabemos como, e a partir daí…

Para resumir, e na minha opinião pessoal, não seria uma moto para o dia-a-dia!

Será uma moto para ter na garagem, e sempre que haja bom tempo ou que precisemos de “animar” o nosso ego, possamos saltar para cima dela e ir encher a alma com aquele som emitido pelos escapes (imagino como soará aquele motor com uns “street illegal”), sentir aquela vibração nas entranhas, rodar o punho e sentir a alucinação da velocidade, e pelo meio, parar numa esplanada e ficar a admirá-la de longe. A ela e aos transeuntes que a vão mirar: invejosos, surpresos, confusos… E nós a babarmo-nos!








Alerta:

Todo o prazer que esta máquina nos proporciona, está assente em tecnologia bastante avançada, com preços consequentemente equivalentes. Por isso aqui fica uma nota para os interessados:

Escapes: o de baixo custa mais de 1500€ (inclui a válvula e o catalizador), o de cima, já só custa 600 €.

O fantástico pneu 240 custa 289€ e tem uma duração relativamente curta.

Trocar pastilhas de travão na roda da frente vai ficar acima dos 125€ e as da de trás nos 75€.

Os discos de embraiagem da FERODO, custam 73€.

Os valores são sem IVA e sem mão de obra, apresentados por João Santos-Queluz. (preços de 2008)

 Ficha técnica:

Motor
Tipo: 4 tempos, bicilindrico em V a 54º, refrigeração por liquido
Distribuição: DOHC, 4 valvulas por cilindro
Diâmetro x curso: 112x90,5mm
Potência declarada:  120 cv/6000rpm
Binário declarado: 15,3kgm/3500rpm
Ignição: digital
Alimentação: injecção electrónica, corpos de 54mm
Arranque: eléctrico
Caixa: 5 velocidades
Transmissão secundária: por veio e cardan
Ciclística
Quadro: tubular em aço
Suspensão dianteira: Forquilha Kayaba invertida, 46 mm de diâmetro 
Suspensão traseira: mono-amortecedor, regulável em pré-carga, 118mm de curso
Travão dianteiro: duplo disco de 310mm com pinças radiais de dois pistões
Travão traseiro: disco de 275mm com pinça de dois pistões
Roda dianteira: 130/70-18''
Roda traseira: 240/40-18''
Dimensões
Distância entre eixos: 1751mm
Altura do assento: 700mm
Capacidade do depósito: 19l
Peso: 315kg